REFLEXÕES SOBRE ACIDENTES DE MERGULHO

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Durante este meu ultimo curso de mergulho, fomos informados de que os acidentes de mergulho, estatisticamente, ocorrem na sua maioria com dois grupos de pessoas:

1) Mergulhadores inexperientes: porque não conhecem muito bem seu equipamento, as normas de segurança e ficam inseguros;

2) Mergulhadores muito experientes: porque confiam demais em seu equipamento e na sua aptidão, acham que estão tão certos que acabam cometendo erros, as vezes fatais.

Diante disso fiquei pensando. Será que o mesmo ocorre na vida da gente? Será que nossos erros, decepções e tristezas podem também ter origem na nossa inexperiência em lidar com os fatos ou com o nosso excesso de confiança ao intuir que somos extremamente capazes de lidar com os problemas sem dar-lhes o devido valor?

É uma questão muito complexa para ser respondida. Comporta muitas opiniões, muita reflexão, muitas páginas de teoria, muitas horas de experiência.

Mas, diante da estatística que se aplica ao acidente de mergulho, os mergulhadores novatos recebem melhor treinamento e são assistidos de perto por instrutores. E os mergulhadores veteranos são condicionados a cumprir à risca uma série de procedimentos, a princípio sem a menor utilidade, mas que garantem a completa verificação do equipamento e a atração de sua atenção. Assim, evitam-se novos acidentes.

Penso que, mesmo não havendo estatísticas sobre as causas dos problemas da vida, deveríamos adotar as mesmas medidas de prevenção. Preparando-nos para as adversidades e não menosprezando os obstáculos.

A estatística sobre o mergulho parece óbvia no que pertine ao mergulhador inexperiente. Nossa lógica é clara em apontá-lo como o mais suscetível a acidentes. Porém, seguindo a mesma lógica, é estranho perceber que os veteranos (com mais de 15, 20 anos de mergulho) sofrem mais acidentes que os novatos. Afinal, após longo período de atividade, o que se espera é que tenham aprendido, e bem, formas seguras de mergulhar. Não é lógico que um veterano cometa erros e sofra fatalidades.

E é justamente isso que me assusta nesta estatística. A simples experiência, por 20 anos consecutivos, não nos traz a segurança absoluta, não só no mergulho, mas também em qualquer ramo da vida. Tanto o veterano quanto o novato devem se submeter aos mesmos cuidados, ao mesmo ritual antes do mergulho, às mesmas checagens “bobas”, relembrar os mesmo procedimentos de segurança (que, se Deus quiser, nunca serão usados, mas que devem ser revistos a cada mergulho, pois nunca se sabe quando se irá precisar), enfim, cumprir todo o protocolo antes de cair na água.

E isto sim se aplica às nossas vidas. Passamos tantas vezes e tanto tempo por experiências tão parecidas que acabamos nos acostumando. Julgamos que nossa atitude é a mais correta, perfeita, impassível de correções ou aprimoramentos. As vezes, pela prática, até “institucionalizamos” algo que não é o mais correto, como comer na sala vendo televisão, sair de casa sem avisar para onde vai e quando volta, deixar de compartilhar os problemas para não preocupar o outro, deixar de rezar juntos etc..

E assim como o veterano do mergulho, nós, suprimindo a cada dia estas práticas vitais mas que muitas vezes parecem desnecessárias, julgando sempre que tudo está correto ou que funciona bem como está, deixando de lado a necessidade humana de apreender, evoluir e de se adaptar, estamos cada vez mais vulneráveis a um acidente.

Em meu trabalho recebo os mais variados tipos de problemas para tentar resolver. Alguns são brigas entre familares, mas quase todos os problemas tem origem familiar.

Desde uma briga de família até ao tráfico de drogas, nota-se a presença do mesmo tema: família.

A família é o berço do homem. É refúgio. É escola. É o início e o fim. O Homem é um ser social e só se realiza plenamente dentro de uma família, seja esta consangüínea ou não.

Geralmente, percebo que a falta de orientação familiar gera desequilíbrios que por sua vez levam ao delito.

Por outro lado, há as brigas de família. É muito fácil amar o próximo que está longe. Difícil é amar o próximo com que se convive diariamente, cujas dificuldades e erros vemos e lidamos todo dia. Porém, foi o próprio Jesus quem instituiu a regra: amar, e não previu exceções.

Se pudesse comparar a família a um corpo humano, diria que o casal, pai e mãe, além de cabeça, são as pernas, que caminham e levam todo o corpo, e braços, fonte de sustento e de equilíbrio.

Os filhos são o tronco. Alguns filhos gostam de ser intestino, e só fazem coisas próprias de intestino. Outros são coração, harmonizam a casa. Outros, ainda, são pulmões, vêm trazer novos ares. Mas nenhum deles vive sem o trabalho dos braços, ou se locomove sem o auxílio das pernas. E se estas guiam por caminhos errados, ali permanecerão. Estão sob o comando da cabeça, e se esta não lhes der as diretrizes, param de funcionar ou não funcionam corretamente.

E sendo o casal pernas e braços, percebo que muitos casais que chegam até a Delegacia são mancos, ou até pernetas. Questionando, percebo que os problemas que enfrentam não são atuais, alguns, para meu espanto, são problemas que se enfrentam desde o namoro, como o alcoolismo e a agressividade.

Outros casais são pernas fortes e firmes, mas que por um tropicão numa pedra ou por um bicho de pé acabam se desentendendo. Mas como são fortes, em regra, tudo acaba se resolvendo.

Contudo, há casos em que mesmo parecendo estruturada, mesmo aparentando serem pernas fortes, há um osso trincado que ninguém percebe. E essa família, aparentemente estruturada e unida acaba ruindo ante as adversidades que o caminho que reserva.

Enfim, a família é a essência. É o maior presente de Deus na vida de cada um. Ouso até dizer que é maior que a própria vida, pois a vida (terrena) se extingue, mas a memória dos familiares ninguém apaga.

Sem uma família, somos bote a deriva. Dentro de uma família, apesar de qualquer tempestade, somos navio que não se afunda.

Voltando às estatísticas de mergulho, penso que algumas vezes tratamos nossas famílias como mergulhadores veteranos: acomodamos, desinteressamos, viciamos em práticas mais confortáveis que úteis, partimos para o individualismo e deixamos de lado o coletivo. Na certeza de que nossas famílias têm estrutura, pernas e braços fortes, cabeça e tronco sadios, relaxamos e deixamos de rever as normas de segurança, deixamos de buscar aprimoramento, deixamos de implementar mudanças, mesmo que para melhor. Para isso serve a estatística, para nos advertir que o excesso de confiança também leva ao acidente.

No mergulho lidamos com nossa própria vida, logo, não vale a pena se arriscar. E acredito que diante da importância da família, também não vale a pena arriscar.

Diante desta reflexão, busquei hoje na internet duas palestras sobre o tema. Seguem abaixo os links. São uma forma que encontrei para afastar a acomodação, uma forma de buscar aprimoramento, uma forma de reciclar velhos hábitos.

Os três primeiros links são de uma palestra de Divaldo Franco Pereira e os dois últimos links de uma pregação do Padre Léo.

De um lado Divaldo, médium, fala para um programa espírita sobre a origem e necessidade da família . De outro lado Pe. Léo, com toda a sua irreverência e carisma, conta um “causo” de como uma família desequilibrada encontrou Jesus. Porém, ambos não estão em lados opostos. Suas palavras não se repelem, suas palavras transcendem qualquer religião. Independente da crença de cada um, independentemente de concordarmos ou não com pontos específicos de cada Doutrina, a soma destas palestras só vem a acrescentar ao nosso crescimento espiritual e contribuir ao bom desempenho de nosso papel no seio de cada família.

Abraços a todos, e que a paz de Jesus esteja sempre conosco.


Marcelo Biagioni

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